“Quando Chega o Outono” é um filme que nos convida a
mergulhar nas complexas emoções humanas, onde desconfiança e segredos se
entrelaçam, criando uma trama densa e intrigante. Ambientado no bucólico
vilarejo da Borgonha, acompanhamos a história de Michelle, que vive uma vida
tranquila ao lado de sua amiga Marie-Claude, até que um acidente com cogumelos
venenosos muda o curso de suas vidas e revela feridas do passado.
O que me chama a atenção no filme é a forma de sua
narrativa, sendo sutil e sem muita ambição. O enredo é simples e desenvolve de
forma lenta, mas com detalhes que desempenham um papel crucial. Cada pequeno
gesto feito pelos personagens do filme contam para que sua história possa ser
compreendida e traz um peso significativo para a trama. Não é um filme de
grandes efeitos ou reviravoltas dramáticas, mas sim um retrato realista e
sensível da psique humana, onde as tensões familiares e os segredos não ditos
moldam os personagens.
A dinâmica entre Michelle e sua filha Valérie, marcada por
mágoas e traumas do passado, é um dos pontos centrais da história. O
envenenamento acidental de Valérie, a proibição que ela coloca de não deixar
Michele ver seu neto, a forma como tudo isso de desenrola, e por outro lado a
relação de Marie-Claude com seu filho Vicente, recém-saído da prisão, onde
Marie se culpa por seu filho ter seguido caminhos e amizades erradas.
“Quando Chega o Outono” não é um filme hollywoodiano, e é
justamente isso que faz dele uma obra-prima. Ele é discreto, mas profundo. A
força do filme está em seu ritmo cadenciado, nos diálogos esparsos e na maneira
como nos obriga a prestar atenção aos detalhes. Não há espaço para grandes
dramas artificiais; tudo é silencioso, mas com um impacto imenso.
Se você procura uma história que vai além das convenções
comerciais, que não precisa de grandes gestos para emocionar e que exige do
espectador uma atenção cuidadosa aos elementos mais sutis, este é um filme
imperdível. É um retrato humano, intimista e inesquecível, que nos lembra que,
muitas vezes, os maiores mistérios e os maiores conflitos estão dentro de nós
mesmos.