
Adolescência - Foto: Reprodução
É raro encontrar uma série que consiga ser ao mesmo tempo
brutal e sutil, desconfortável e essencial. Adolescência faz exatamente
isso. Com uma direção ousada, que aposta no plano-sequência para prender o
espectador na tensão dos acontecimentos, a minissérie não apenas constrói um
suspense envolvente, mas também levanta questões urgentes sobre juventude,
internet e violência.
Desde o primeiro episódio, o espectador é imerso em uma
atmosfera de tensão crescente. O uso contínuo do plano-sequência pode ser
exaustivo, mas também amplifica a sensação de realismo, especialmente nas cenas
que exploram os corredores frios da delegacia e os olhares incrédulos de pais e
policiais diante da brutalidade do crime. A cena de Jamie chorando na viatura é
um dos momentos mais impactantes, pois nos força a encarar a complexidade do
protagonista sem explicações fáceis.
A escolha de ambientar o segundo episódio inteiramente
dentro da escola eleva o peso da narrativa. As investigações ali parecem
inúteis diante da indiferença dos adolescentes, reforçando o abismo
interpretativo entre gerações. Já no terceiro episódio, a série muda seu ritmo
e entrega um embate psicológico magistral entre Jamie e sua psicóloga,
sustentado por atuações intensas e um roteiro afiado.
Mas é no episódio final que Adolescência realmente se
consagra como uma obra corajosa. O foco na família de Jamie, especialmente em
seu pai, questiona o papel da masculinidade na formação do jovem e evita
simplificações. Diferente de narrativas convencionais sobre violência juvenil,
a série não recorre a clichês de famílias desestruturadas ou traumas evidentes.
Pelo contrário: mostra uma família comum, onde pequenos gestos e influências
invisíveis podem ser devastadores.
Ao trazer o impacto da cultura digital para o centro da
discussão, Adolescência nos obriga a encarar um problema contemporâneo
urgente: até que ponto discursos de ódio e ideologias tóxicas moldam o
comportamento dos jovens? Como diferenciar um adolescente revoltado de um
potencial criminoso? Com uma abordagem que lembra Precisamos Falar Sobre o
Kevin e Elefante, a minissérie não entrega respostas fáceis.
Adolescência : Uma das séries mais necessárias dos últimos anos – Carlos Enriki
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